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Arquitetos: Grupo Culata Jovái; Grupo Culata Jovái
- Área: 300 m²
- Ano: 2017
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Fotografias:Federico Cairoli
"Escutar a estrutura e articular a experiência e a compreensão do espaço". (Juhani Pallasmaa, Os olhos da pele, a arquitetura e os sentidos.)
"Todo espaço funciona como um grande instrumento". (Pether Zumthor, Atmosferas).
Primeiro construímos o silêncio, logo projetamos como a arquitetura soa. O ouvido é o primeiro sentido que desenvolvemos no útero. Nos dá informações que vão desde o raciocínio, o conhecimento, a percepção, a memória, até o afetivo e emocional. O som se percebe, não se vê e nem se toca. A matéria permite sua existência, ele viaja através dela, mas o som não é matéria. A arquitetura é um meio de propagação do som. Em tempos do culto à imagem, o efêmero, a forma pela forma, o super-estímulo visual em meios e redes, parece atípico conceber arquitetura a partir do som: Como soa um edifício? Como soam os materiais de construção? Como a forma construída influencia na sonoridade? Como a acústica de um espaço afeta o ouvido?
Um estúdio de gravação pode ser definido enquanto um conjunto de aparatos tecnológicos que registram som a fidelidade necessária para poder modificá-lo e utilizá-lo como matéria prima de criações que incluam áudio (música, cinema, publicidade, televisão, documentários). Dentro desses aparatos tecnológicos (microfones, consoles, compressores, cabos, computadores) também está a arquitetura, pois ela não é apenas um organizador do espaço, mas sim uma parte ativa no registro do áudio. Manuais para construir estúdios de gravação nos dão receitas de primeiro mundo, onde as peças podem ser compradas em grandes lojas de departamento destinadas a áudio. Sem acesso tão direto a esses recursos e tecnologias padronizadas, recorremos ao entendimento das propriedades de cada peça e trabalhamos a partir de suas respostas físicas. Construímos formas e proporções calculadas acusticamente, aproveitando propriedades de materiais comuns e econômicos.
Projetamos e construímos a partir do conceito "box in a box", ou seja, uma caixa dentro de outra, onde cada uma é independente da outra. A primeira caixa é a construção preexistente, aproveitando o espaço e material, paredes existentes, sua espessura e massa, reutilizando partes de demolições realizadas para adequações funcionais. A segunda caixa é a somatória de: pisos flutuantes, paredes com "formas e texturas acústicas" e tetos de madeira. Entre as caixas o som é dissipado e absorvido. A irregularidade dos planos que configuram os espaços permite que as ondas sonoras viagem livres através da arquitetura.
A madeira possui a propriedade mística de absorver o som, guardá-lo em suas moléculas e carregar-se de energia criativa. Essa energia concentrada no espaço se divide e reabsorve. Conseguimos criar espaços com uma reverberação ideal que pode ser controlada, mas que não poderia ser gerada sem a arquitetura específica. Transformamos uma antiga casa com pátio do centro de Assunção em um estúdio/albergue, para que o artista possa expressar-se mentalmente em um lugar de paz e liberdade criativa.